segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Michel Bastos, um passo de cada vez

Filipe Frossard Papini
@BrasiLyonnais / @FilipeDidi




Até alguns meses atrás, o Lyon se preparava para encarar uma temporada difícil. Todos os indícios de um 2011/12 cheio de armadilhas se apresentavam ao clube francês: técnico novo e pouco experiente na profissão, presença discreta no mercado de transferências, três anos sem conquistar títulos e adversários que investiram pesado em contratações.

Após três meses de bola rolando, porém, o time se consolidou nas primeiras colocações do Campeonato Francês, segue na corrida pela classificação aos mata-matas da Liga dos Campeões da UEFA e já garantiu presença nas quartas de final da Copa da Liga Francesa. E o principal: está jogando bem. Graças sobretudo a Michel Bastos.

Em grande fase, apesar de atualmente estar afastado dos gramados por três semanas devido a uma contusão na coxa, o brasileiro voltou a atuar no nível que o transformou em titular absoluto da Seleção até a Copa do Mundo da FIFA 2010. E embora não tenha sido convocado após a troca de Dunga por Mano Menezes, ele garante que não desistiu de voltar a vestir a camisa canarinho.

Do seu novo papel de líder no Lyon à ambições com a Seleção Brasileira, passando pelos encantos do país-sede do próximo Mundial, o versátil Michel Bastos tinha muito a conversar com a equipe do FIFA.com.

FIFA.com: Individualmente, você estreou muito bem no Campeonato Francês com o Lyon. Na França se fala muito de Javier Pastore, Nenê e Eden Hazard, mas talvez o melhor jogador do campeonato seja o Michel Bastos...

Michel Bastos: (risos) Não sei se estou entre os melhores jogadores, mas recuperei muito da qualidade do meu futebol. Estou me sentindo bem e acho que ajudo a equipe. Mas eu diria que o Pastore é mais eficiente. Ele marca muitos gols, faz muitas assistências, em suma: é mais decisivo. Mas o meu objetivo não é ser o melhor, é render o máximo possível e ajudar o time. Estou contente com o meu início de temporada. Tomara que continue assim.

No meio do ano, o Lyon anunciou que 2011/12 seria uma temporada de transição. Depois desse bom início de campanha, porém, a meta continua sendo "sobreviver" ou vocês estão mirando mais alto?

Não queremos esconder o jogo, mas, no começo da temporada, não éramos favoritos ao título. Existem equipes que estão na nossa frente. Mas sabemos o que precisamos fazer. Qualidade para chegar o mais alto possível a gente tem. O objetivo é fazer o máximo para continuar na briga até o fim. Não somos favoritos, mas nem sempre é o favorito que ganha. Nos anos anteriores, éramos favoritos e não ganhamos.

Com a renovação do elenco e a escolha de apostar nos jovens da base, você agora é um dos jogadores mais experientes do Lyon. Gosta desse papel?

Sou antigo no time, tenho 28 anos, mas sempre gostei de brincar, de levar um pouco de descontração ao vestiário. Mas com a minha idade e a minha experiência, preciso dar o exemplo aos mais jovens, aos jogadores que até poucos meses ou anos estavam no juvenil e tinham os profissionais como modelo. Hoje tento ajudar ao máximo. Existem vários jogadores com esse papel a desempanhar no grupo — Cris, Kim Kallström, Anthony Reveillère, Remy Vercoutre —, que estão lá para orientar pelo discurso e pelo comportamento mais profissional possível. É um papel que me agrada, que me dá mais responsabilidades.

É frustrante para você ter chegado ao Lyon quando o clube era o melhor da França e não ter ganhado nada desde então?

Tenho a impressão que sou pé frio! (risos) Até o momento, o destino não sorriu para mim. Mas sei que estou no lugar certo. Tenho o clube e as qualidades necessárias para conquistar títulos. Talvez inclusive este ano. Espero de verdade ganhar alguma coisa, porque sei que temos muita qualidade no grupo. Isso é o mais frustrante. O que decepciona não é não ganhar, mas saber que temos tudo que é preciso para ganhar e não conseguir chegar lá. Se não tivéssemos condições, diríamos que é normal e que simplesmente perdemos contra o mais forte que nós. Mas quando olhamos o time que temos, sabemos do valor da equipe e não conseguimos aproveitar. Isso é ainda mais doloroso.

Você já jogou em todas as posições do setor esquerdo. Mas, sendo canhoto, muitas vezes também joga pela direita, como o Lionel Messi no Barcelona ou o Arjen Robben no Bayern de Munique. Gosta da posição?

É verdade que mudei muitas vezes, e que também mudo de posição no decorrer da partida. Depende do adversário, do esquema tático, do andamento do jogo. Os outros atacantes e eu gostamos de inverter para tentar surpreender o adversário. Em algumas partidas, essa minha versatilidade e as inversões nos ajudaram muito. Quando estou na direita, tenho a possibilidade de entrar com o pé esquerdo, para chutar com a perna mais forte ou abrir o jogo para o lateral atrás de mim. Do outro lado, tenho mais chances de tabelar e de me concentrar em fazer bons cruzamentos. Tudo depende da partida, onde posso ser mais útil para o time. Mesmo assim, prefiro atuar na minha posição de origem, no lado esquerdo.




Você é um dos últimos brasileiros do Lyon, ao lado de Cris e Ederson. O que você e os seus antecessores, jogadores como Sonny Anderson, Juninho, Cláudio Caçapa, Fred e Nilmar trouxeram para o clube?

A maioria desses jogadores marcou o clube. O que os brasileiros trouxeram para o Lyon é antes de mais nada a cultura da vitória, a vontade de deixar uma marca na história do clube. Quero fazer o mesmo, conquistar algo importante. O melhor exemplo é o Juninho, que ganhou tudo aqui, deu tudo para transformar o Lyon num grande clube. A maioria dos brasileiros que passaram pelo Lyon deixou uma marca. Também quero conseguir deixar.

Falemos de Seleção Brasileira. Na era Dunga, você ganhou o seu lugar na equipe e passou um ano com o elenco. Que lembranças guarda desse período?

Ótimas lembranças! Eu estava no melhor momento da minha carreira. Todas as vezes em que fui convocado, joguei, ganhei a minha vaga como titular, tive a possibilidade de disputar uma Copa do Mundo... E ainda não acabou! Estou trabalhando para voltar, mesmo sabendo que vai ser difícil porque a concorrência é grande. Se eu conseguir boas atuações no Lyon, as portas da Seleção Brasileira podem voltar a se abrir. Não é mais um sonho, porque o sonho era um dia jogar na Seleção e isso eu já consegui, mas, em todo caso, continua sendo um objetivo.

Com a chegada do Mano Menezes, você perdeu espaço na Seleção. Conversou com ele sobre isso?

Encontrei com ele em Paris quando o Brasil veio jogar um amistoso com a França. Ele me disse que precisou fazer escolhas e que tinha ideias sobre o elenco, e que se eu voltasse à Seleção seria na minha posição atual, na meia esquerda. Mas se ele precisar me convocar para jogar de novo como lateral, também não me incomoda. O essencial é estar na equipe. Atualmente ele está tentando montar o grupo. Respeito as escolhas dele e, até agora, foram as escolhas certas. Mas tudo isso ainda pode mudar, sabemos que as coisas acontecem rápido. No momento, o André Santos e o Marcelo estão na minha frente porque são jogadores que atuam realmente na lateral esquerda nos seus clubes, posição em que não jogo mais desde que vim para a França. Mas a minha vontade seria ter uma chance na minha verdadeira posição.

O Brasil foi eliminado prematuramente da Copa do Mundo da FIFA 2010. Passado um ano, acalmados os ânimos, como você explica essa decepção?

Na verdade, tudo deu certo até o segundo tempo contra a Holanda. Estávamos bem até ali, inclusive fizemos um excelente primeiro tempo naquele dia — sem dúvida a nossa melhor atuação desde o início do torneio. Mas, depois, é impossível explicar o que aconteceu. Jogamos mal, nos perdemos no segundo tempo e pagamos muito caro por isso. No fim das contas, houve muitas coisas positivas na nossa campanha e algumas negativas, mas as pessoas só lembram do que não funcionou. Pessoalmente, tento guardar os aspectos positivos para continuar evoluindo. Mas é preciso encarar a verdade: tive a oportunidade de ser campeão do mundo e deixei passar... Tento tirar as lições desse fracasso para seguir em frente. Mas a Copa do Mundo foi um momento que jamais vou esquecer.

O próximo Mundial não está tão longe, e será justamente no Brasil. É o grande sonho de todo jogador brasileiro, e seu também?

Tenho consciência de que será difícil, porque terei quase 32 anos em 2014. Isso não faz parte dos meus objetivos atualmente. O meu objetivo, no curto prazo, é finalmente conquistar um título no Lyon e manter o meu nível o mais alto possível para realizar a melhor carreira possível. Se continuar assim até 2014, se eu ainda estiver em forma, pode acontecer... Todo mundo sonha em jogar ou voltar a jogar uma Copa do Mundo, mas atualmente essa não é a meta principal da minha carreira. Mesmo que ainda falte tempo, será difícil por causa da idade. Por outro lado, sinto que estou no meu melhor momento física e tecnicamente. Portanto, se continuar assim daqui a três anos, por que não?

Todo mundo conhece os clichês sobre o Brasil. O que as pessoas que visitarem o país em 2014 vão descobrir?

As pessoas que nunca visitaram o Brasil vão descobrir acima de tudo a simpatia das pessoas. É algo que marca todo mundo na primeira vez. Depois, embora sejam clichês, é a verdadeira realidade do Brasil: alegria, festa, praia, mulher bonita, samba, futebol. Não é pouco! O que as pessoas precisam saber é que tudo que se diz sobre o Brasil é verdade! Elas serão muito bem recebidas e vão apreciar tudo que faz a beleza do nosso país. As pessoas vão ao Brasil para conhecer isso. É importante que elas descubram aquela alegria de viver que temos e que sabemos transmitir.



FONTE: FIFA.com
FOTOS: olweb.fr



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