terça-feira, 2 de agosto de 2016

O Lyon começa a temporada com a ambição de ser um gigante na Europa

Filipe Frossard Papini
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Lacazette é o homem responsável por fazer o OL alçar voos maiores (Foto: olweb.fr)
Desde o início do século XXI, o Lyon se transformou. De um time mediano na França, que fazia campanhas na segunda divisão, o clube buscou em jogadores brasileiros – como Élber, Juninho, Cris, Caçapa e cia – a inspiração para conquistar muitas coisas que nem o mais fanático dos torcedores imaginava ser capaz. A história é conhecida por todos, foram sete títulos nacionais consecutivos, uma Copa da Liga, duas Copas da França e sete Supercopas da França. Coincidência (ou não) a hegemonia acabou quando Juninho Pernambucano deu adeus ao clube e foi para o Al-Gharafa. Contudo, agora o presidente Jean-Michel Aulas, que está à frente do clube desde 1987, tem ambições maiores. Ele quer ser gigante. Ser mais que o PSG, a curto-médio prazo, e sem o aporte financeiro estrangeiro. Como ele vai fazer isso? Explico abaixo.

Vamos começar com o novo estádio. O Parc OL (que ainda receberá naming rights) já tem oito meses que está de pé e recebendo jogos e eventos esportivos. A estrutura já tem trazido lucros surpreendentes aos cofres lioneses que nem mesmo os investidores esperavam. Na temporada 2015/16, que se encerrou há alguns meses, usando somente seis meses do novo estádio, o OL Groupe (grupo de investimento que gere financeiramente o Lyon) anunciou um lucro recorde de 218,1 milhões de euros. Isso corresponde a um aumento de 111% de um ano para o outro. O motivo, além do estádio, é a segunda classificação seguida direta para a fase de grupos da Liga dos Campões (lembrando que na França, somente o campeão e o vice conseguem esta vaga direta. O 3º colocado precisa enfrentar dois adversários eliminatórios para conseguir chegar até lá). Além disso, o clube terá um orçamento recorde para a temporada de 200 milhões de euros.


CASA NOVA

Na nova casa, o Lyon jogou 12 partidas, venceu dez e empatou duas. Segue invicto (Foto: olweb.fr) 
O Parc OL é um estádio com capacidade de aproximadamente 60 mil torcedores e teve um custo de 480 milhões de euros. Esse dinheiro foi inteiramente pago pelo clube e por parceiros do OL Groupe (como a Cegid, empresa do presidente Jean-Michel Aulas e a Pathé, do sócio minoritário, Jérôme Seydoux). Isso significa que os lucros de todos os eventos que acontecem por ali vão direto para o bolso do Lyon, que só tem o ônus de pagar a operação corriqueira dos jogos e os reparos.

Vale lembrar que o Parc OL foi palco da Euro 2016 e será casa também da Copa do Mundo de futebol feminino em 2019. Na projeção de Jean-Michel Aulas, o estádio trará lucros de 100 milhões de euros por ano. Como efeito comparativo, o antigo estádio, o Muncipal de Gerland, revertia somente 21 milhões de euros por ano. Isso significa um aumento de 476% desta receita.


OL LAND

Saindo do Parc OL e pisando nas ruas do entorno, mais precisamente em Décines-Charpieu – região metropolitana de Lyon que abriga estádio – temos a OL Land. Explicando melhor: a região do estádio é toda tomada por construções do Lyon em prol do seu time de futebol. Por ali tem o novo CT do clube (Groupama OL Training Center), o escritório do OL Groupe (com cerca de 3 mil m²), a loja oficial e um estacionamento com 7 mil vagas. Além disso, existem áreas recreativas de entretenimento, dois hotéis com 150 quartos cada, um shopping (de 40 mil m²), uma clinica esportiva e prédios com escritórios (8 mil m²). Isso transforma a visita do torcedor, que antes era de simplesmente acompanhar o time, em uma imersão a uma verdadeira cidade do clube. Em dias de jogos, é um passeio perfeito e completo para a família. É possível chegar na OL Land de manhã e só voltar pra casa depois do jogo. Ou quem sabe até mesmo jantar por ali mesmo. A criação desse espaço também teve um custo bem alto e, dessa vez, houve uma parceria público-privada, com empréstimos bancários que serão pagos nos próximos 50 anos, inclusive. Mas tudo dentro do planejamento e nada que vá quebrar o clube... muito pelo contrário.


Torcedores aproveitam os arredores do estádio em dia de jogo (Foto: olweb.fr)

O TIME

A postura fora de campo, com investimentos em estrutura e financiamentos imponentes, de nada adianta se o time não corresponder em campo. E para ser sincero, se não fosse o Paris Saint-Germain, o Lyon já teria conquistado seu bicampeonato consecutivo nas duas últimas temporadas. Não vou ser ufanista e lamentar isso. O PSG teve seus méritos e conquistou com merecimento o que ganhou. Mas a ideia que quero apresentar aqui é que o futebol está, sim, correspondendo e essa temporada promete muito mais.

Na temporada passada, foi o time responsável por quebrar a sequência absurda do PSG de quase um ano sem derrota na França, com uma vitória forte de 2 a 1 em casa. Esse jogo foi um divisor de águas. Era 28º rodada da Ligue1 e, a partir desta data, o OL só foi perder um jogo novamente na última rodada. Foram praticamente três meses sem derrotas. No fim da temporada, ainda em disputa de vaga com o Monaco, em confronto direto, bateu o time do Principado por um impactante 6 a 1, garantido vaga direta para a Liga dos Campeões. Só não foi mais longe na Copa da Liga (quartas) e Copa da França (oitavas), pois enfrentou o mesmo PSG em ambas.

Formação que pode ser considerada titular do Lyon atualmente. Em pé: Lopes, Tolisso, Yanga-M'Biwa, N'Koulou e Gonalons. Agachados: Cornet, Rafael, Morel, Darder, Fekir e Lacazette (Foto: olweb.fr)

JANELA DE TRANSFERÊNCIAS

Para essa temporada, o presidente Jean-Michel Aulas fez promessas extravantes que não foram cumpridas, contudo o mercado está sendo cirúrgico para o Lyon. A estratégia é tentar manter o máximo de peças no elenco que já está pronto e, em caso de perdas, repor com jogadores a altura ou ainda melhores. Até o presente momento desta postagem, as saídas do OL foram:

- Henri Bedimo (final de contrato).
- Bakary Koné (Málaga – 800 mil euros).
- Steed Malbranque (final de contrato).
- Arnold Mvuemba (final de contrato).
- Lindsay Rose (Lorient – 1,5 milhão de euro).
- Samuel Umtiti (Barcelona – 25 milhões de euros).
- Romain Del Castillo (Bourg-en-Bresse – empréstimo).
- Zakarie Labidi (Brest – empréstimo).
- Louis N’Ganioni (Brest – empréstimo).


Sam Umtiti, certamente, foi a grande perda do OL no mercado (Foto: FCBarcelona.com)
Dentre todos estes, somente Umtiti e Bedimo poderiam ser considerados titulares. Contudo, veja quais foram as contratações do Lyon até o momento:

- Emanuel Mammana (River Plate – 7,5 milhões de euros + 1,5 de bonificação por desempenho).
- Nicolas N’Koulou (Marseille – sem custos).
- Maciej Rybus (Terek Grozny – sem custos).

Basicamente, o clube fez três excelentes compras, mas só investiu dinheiro no Mammana, que teoricamente seria o substituto de Sam Umtiti. N’Koulou repõe as saídas de Rose (que passou a última temporada emprestado) e Koné (que quase não entrou em campo em 2015/16). Rybus chega com excelentes referências. Um lateral esquerdo bem ofensivo que teria atuado na Euro se não fosse uma lesão que o tirou da seleção polonesa. Nos próximo dias, até o final do mês de agosto, o Lyon ainda pode anunciar nomes. Mas não espere contratações bombásticas. O próprio Aulas já avisou que deve fechar com um ou dois jogadores de seleções sub-21 e para compor o time de base ou o time B.


MANTER O PLANTEL

Tolisso, Lacazette e Fekir estão sendo os jogadores mais procurados nesta janela de transferências. Todos permanecem... por enquanto! (Foto: Sipa Press)
Daí você pode perguntar qual é a grande ambição do clube para a temporada? Te respondo que é justamente essa: manter o time que já estava funcionando excelentemente bem no primeiro semestre desse ano. A ideia é não abrir mão de Lacazette, Fekir, Valbuena, Gonalons, Yanga-M’Biwa, Darder, Cornet e outros grandes talentos. Tolisso, por exemplo, que não é nem de longe um dos melhores do elenco, disse “não” para o Napoli com uma proposta surpreendente de 30 milhões de euros + 7,5 milhões de bonificações justamente por acreditar na ambição do presidente do clube em manter as peças.

As duas únicas arestas soltas são Ghezzal e Grenier. O primeiro fez um começo de 2016 impecável e se viu valorizado. Tem mais um ano de contrato e parece não querer renovar. O Lyon deve repassá-lo ou ele ficará no time B como “castigo”, como já fez anteriormente com o atacante Gomis antes dele ir para o Swansea. Já Grenier parece não ter mais clima no clube. Ele já discutiu publicamente com o presidente e o clima entre ambos não está nada amistoso. O jogador foi colocado na lista de transferências pelo Lyon, mas na última semana Aulas disse que se ele quiser permanecer, o espaço está reservado para o meia. As saídas (ou não) desses dois atletas implicam diretamente na contratação (ou não) de novas peças.


CATEGORIAS DE BASE E STAFF

 Recém promovido da base, Houssem Aouar, de apenas 18 anos, já assinou contrato profissional e vem ganhando chance no time principal (Foto: Divulgação/Lyonnais)
Falar de Lyon e não citar as categorias de base é algo quase impensável. Considerada a segunda melhor escola da Europa (atrás somente de Barcelona), o clube também mexeu para não perder algumas grandes promessas que podem vir por aí. Dorian Grange (goleiro, 20), Isaac Hemans, (zagueiro, 19) e Houssem Aouar (meia, 18) assinaram contrato profissional. Este último, inclusive, já vem sendo testado na pré-temporada. Além disso, Maxwel Cornet, 19 anos, que terminou a temporada como titular, também renovou. Contrato até 2021.

Na equipe de staff também houve mudanças. Grégory Coupet, lendário ex-goleiro do clube, agora é auxiliar de Joël Bats e treinará os arqueiros do time B. Outro ex-ídolo que ganha destaque no clube é o zagueiro brasileiro Cris. Ele era treinador do sub-15 e agora cuidará da equipe sub-19. Quem retorna a casa também é Gerard Houllier. Para quem não se lembra, ele foi o treinador do OL entre as temporadas 2005 e 2007 e venceu o Campeonato Francês duas vezes consecutivas. Ele volta para ser uma espécie de gerente do Lyon. Cuidará da parte política, será elemento decisivo nas contratações e também fará vistorias nos processos de treinamento das categorias de base. Em algum momento, se falou até mesmo que ele faria alguma gestão para o time feminino do Lyon, que é o atual campeão da Liga dos Campeões e, quiçá, o melhor do mundo. Mas isso não foi confirmado pela direção.

Nesse começo de temporada, o grande problema que o clube teve relacionado aos staffs foi com Antonio Pintus. O preparador físico italiano chegou superrecomendado logo após a renovação de Bruno Génésio. Ele tem em seu currículo times como Juventus, Chelsea, Udinese, Monaco, West Ham, Marseille e Palermo. Acontece que quando Pintus começou a trabalhar e aplicar seus métodos, o Real Madrid apareceu com uma proposta irrecusável diretamente de Zinedine Zidane. O contrato de três anos de Pintus tinha justamente uma cláusula que dava brecha ao ataque madridista. O presidente Aulas ficou furioso pela falta de profissionalismo do seu funcionário, tentou até mesmo acionar a Fifa, em vão... o italiano foi mesmo para o Real Madrid poucos dias após assinar com o Lyon. Mas, antes disso, ele prometeu que iria deixar tudo no esquema para Dimitri Farbos e Antonin da Fonseca, os outros preparadores físicos do clube.


Ídolo do clube, o zagueiro Cris foi promovido e agora comanda o sub-19 (Foto: Reprodução/Instagram/Arquivo Pessoal)

COMEÇO DA ATUAL TEMPORADA

No passado recente, não há registros de um início de pré-temporada com resultados tão eficientes como estes que o Lyon vem realizando. Claro que isso não é um termômetro para muita coisa. Mas podemos pegar o exemplo da última temporada: o time fez cinco amistosos e venceu apenas um. Resultado? Começou a temporada de forma desastrosa, com três vitórias em 11 jogos. Já nessa atual, não aconteceu nenhuma derrota. Ao todo, foram quatro jogos. Teria mais um, caso a tentativa de golpe militar na Turquia não cancelasse o jogo contra o Fenerbahce:

2 a 2 contra o Bourg-en-Bresse, caçula na Ligue2 e parceiro comercial do clube. O jogo inteiro você pode conferir abaixo. Gols: Bègue 1-0: 16min; Ferri 1-1: 36min50; Grenier 1-2: 1h22min40; Boussaha 2-2: 1h32min10


2 a 1 contra o Zenit: gols de Tolisso e Fekir para o Lyon e Shatov para os russos


1 a 0 diante do Sporting: gol de Lacazette


3 a 2 diante do Benfica no último domingo: Fekir, Cornet e Lacazette marcaram



RIVALIDADE ACIRRADA

 O craque  Hatem Ben Arfa, cria da base do Lyon, agora será o responsável por fazer a torcida parisiense esquecer Ibrahimovic. Fácil a missão?  (Foto: PSG.fr)
Agora a temporada começa de vez para o Lyon. O adversário do próximo final de semana, mais precisamente no sábado, dia 06/08/16 será o Paris Saint-Germain. O jogo já vale título pela Supercopa da França e será disputado na Áustria. Essa partida é importante não apenas pelo troféu, mas também traz um ânimo importantíssimo para o começo da Ligue1, que já terá início na próxima semana. Quem vencer a Supercopa da França já entra com um passo na frente dos demais na preparação psicológica e no aspecto físico.

Mas o Lyon entra como favorito para esse jogo? Não acho! Mas imagino um cenário de rivalidade contra o PSG ainda mais acirrado e equilibrado a partir desta temporada. Obviamente não estou querendo desmerecer as chegadas de Ben Arfa, Krychowiak e Lo Celso, além do retorno do empréstimo de Behebeck. Mas sem Ibrahimovic – que era o principal fator de desequilíbrio do elenco – e com a saída de Laurent Blanc, Unai Emery vai precisar de tempo para implementar sua filosofia e fazer o time render somente com Cavani na frente de centroavante. É nesse ponto que o OL tem certa vantagem. O time, apesar de inferior tecnicamente, já está pronto. Em um primeiro momento, não existem peças a mexer além da troca natural de Umtiti por N’Koulou. Bruno Génésio mantém o que vinha fazendo em março, abril e maio e isso pode vir a ser o diferencial para sábado.

O caminho para o sucesso está desenhado e vinha sendo planejado há 16 anos, desde os tempos de ouro de Juninho. A partir de agora, vem a colheita. Jean-Michel Aulas, apesar das polêmicas e de ser cabeça-dura de vez em quando, sabe muito bem onde pisa e um trabalho de 30 anos erguendo a batuta do clube não pode ser contestado por quase ninguém. Veremos se o clube consegue sustentar tudo isso que se espera dele e fazer uma temporada digna de suas expectativas. Bater o tetracampeão PSG na Ligue1 e/ou passar das oitavas na Liga dos Campões já pode ser considerado o primeiro passo para subir mais um degrau na escala dos gigantes. Será que é possível?

Será que em 3 de março de 1987, o então jovem Jean-Michel Aulas imaginava que o time alcançaria esse nível de qualidade? (Foto: Reprodução/YouTube)

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